A Importância dos EPIs em Radiologia: Uma Abordagem Técnica e Fundamentada
Introdução
Em ambientes que utilizam radiação ionizante, como serviços de radiologia convencional, tomografia, hemodinâmica ou procedimentos intervencionistas guiados por imagem, a segurança ocupacional depende do cumprimento rigoroso dos princípios da proteção radiológica. Entre esses princípios, o uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é um dos pilares mais importantes — especialmente para a aplicação do princípio da otimização da dose.
Este artigo tem como objetivo esclarecer, de forma técnica e fundamentada, por que e como os EPIs radiológicos devem ser utilizados, considerando as características físicas da radiação, os mecanismos de atenuação, e os riscos à saúde ocupacional.
A Natureza da Radiação Ionizante
A radiação ionizante utilizada em radiologia diagnóstica é composta principalmente por raios-X, que são fótons de alta energia. Essa radiação, ao interagir com o tecido biológico, pode causar:
- Ionizações diretas, que rompem ligações químicas;
- Efeitos estocásticos, como mutações genéticas e câncer a longo prazo;
- Efeitos determinísticos, como eritemas, cataratas e infertilidade, quando a dose ultrapassa determinados limiares.
Como a radiação não tem cheiro, cor, nem provoca dor imediata, sua periculosidade é subestimada. Daí a importância dos EPIs como barreiras de atenuação.
Riscos Ocupacionais sem Proteção
Mesmo em procedimentos de baixa dose, como uma radiografia simples, a exposição repetitiva e cumulativa ao longo dos anos pode ultrapassar os limites anuais estabelecidos pela CNEN (20 mSv em média, com teto de 50 mSv/ano). Isso é particularmente crítico em:
- Técnicos que acompanham exames portáteis em UTI
- Profissionais em salas de hemodinâmica (alta taxa de espalhamento)
- Radiologistas intervencionistas com longa permanência próxima ao feixe
Estudos mostram aumento da incidência de catarata radiogênica, hipotireoidismo e leucemia ocupacional em trabalhadores expostos cronicamente sem proteção adequada.
Boas Práticas de Uso dos EPIs
Além de utilizar o EPI, é fundamental garantir sua efetividade real, o que exige:
- Integridade estrutural: inspeção periódica contra rachaduras e perfurações.
- Armazenamento vertical: nunca dobrar aventais — isso danifica a proteção interna.
- Ajuste anatômico correto: evitar folgas no protetor de tireoide e nos óculos.
- Compatibilidade com a energia do feixe: confirmar se a espessura do EPI atende à faixa de kVp utilizada.
Além disso, o uso de dosímetros passivos (como TLDs) ou ativos (como eletrônicos) é indispensável para monitorar a dose acumulada individualmente.
Conclusão
O uso adequado dos EPIs radiológicos é uma exigência legal, técnica e ética. Vai além da simples obediência às normas: trata-se de preservar a saúde de profissionais que exercem papel fundamental no diagnóstico e tratamento de pacientes. A compreensão dos mecanismos físicos da radiação e da eficácia dos materiais plumbíferos deve ser parte da formação continuada dos trabalhadores da área.